Era tão bonita aquela casa sempre vazia, nunca uma luz se via, um vulto, um som...era aquele silêncio misterioso, de porte gigantesco e frio que me prendia ali olhando aquela casa vazia!
Ontem eu tinha dado conta que uma luz vinha de um quarto talvez onde a sombra do passado pernoitava, talvez vinda daquele retrato de corpo nú onde a alma já partira...
Mas eu continuava olhando como se de repente o vulto de corpo indefinido resurgisse do nada e me cubrisse o corpo frio com suas vestes de sonhos dourados... Há quato tempo eu ali estava olhando o porte senhoril do qual brotava aquele perfume estranho que me entrava pelas narinas tomando conta de todo o meu ser... Não sei, só sei que continuava ali á espera que o crepitar que resurgia das brechas da madeira retorcida pelo tempo, de tanto tempo vazia.
Mas a luz não acendia, e a porta não se abria, o retrato continuava fixo, sombrio pálido... passara quanto tempo? Meses? Anos? Dias? Não sei, mas sei que me apetecia toca-lo, sua pele macia onde o sonho dormia, Óh! Quanto eu queria me misturar nos fantasmas daquela casa vazia... e eu continuava ali!
São Percheiro
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