MAOS DE TESOURA

24-06-2013 14:26

 

Por Ana Lucia Santana
Uma sensação de encantamento e magia permeia a história da criatura inacabada que, em lugar das mãos, possui afiadas tesouras, e a mais doce inocência, depois contaminada pelo mundo exterior. Mas não se deixem enganar os superficialistas. Há mais que um conto de fadas por trás de Edward Mãos-de-Tesoura, a cativante fábula de Tim Burton.

 

A pequena comunidade alterada pela presença de Edward (Johnny Depp), que antes vivia em uma sombria mansão isolada do resto do mundo, é o protótipo dos universos habitados por seres medíocres e pacatos. Estes têm sua habitual e confortávl ‘meia-vida’ abalada pelo convívio com Edward – mais que suas mãos-de-tesoura, sua maior fraqueza certamente é a extrema pureza. Não por acaso ele é retirado de seu ninho e acolhido por Peg (Dianne Wiest) – supercharmosa-, representante da Avon, ela também um ser à parte na vizinhança.

Por ironia – ou não? – a inocência de Edward desperta nos que o cercam, após o impacto inicial, os piores sentimentos: ciúme, insegurança, inveja, cobiça, ódio. De uma idolatria inicia, que o leva até mesmo a programas de TV, a uma reação em cadeia de autodefesa por uma sociedade (ir) racional ameaçada pelos sentimentos.

Tim Burton, que já nos deliciara com Beetlejuice – Os Fantasmas se Divertem (1988), resgata seu talento nesta fábula tão singela quanto o amor de Edward por Kim, filha de Peg, interpretada por Winona Ryder – atriz anteriormente descoberta por este mesmo diretor. Johnny Depp parece ter nascido exclusivamente para viver este personagem. Ainda há a participação especial de Vincent Price, ídolo de infncia de Burton, como o genial inventor de Edward.

E a coleção de ‘peruas’ que habita a comunidade parece ter sido escolhida a dedo pelo diretor para compor esta bizarra população. Tão coloridas quanto suas casas e carros. Algumas cenas são antológicas, magistralmente captadas pelas tomadas de cmera. Como a que nos mostra, de cima, a surreal sociedade, com suas casas e ruas padronizadas e coloridas – no momento em que todos retiram, sincronizadamente, seus carros da garagem.

Esta imagem passa exatamente a idéia de uma cidade de brinquedo, reforçando a sensação do artificialismo de seus habitantes e a atmosfera de um conto de fadas. Assim como a delicada trilha sonora, a belíssima fotografia de Stefan Czapsky e o fio narrativo que conduz a história, que também contribuem para esta magia. De um lado, o encantamento. De outro, uma metáfora sobre a vida. Quem quiser, que conte outra…

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